«Num tempo em que a barbárie ressurge de rosto descoberto, se erguem muros contra o outro, deserdado da sua parte de humanidade, irá o medo ter tudo? Medo. Da palavra medo se povoa este livro. Começa no título, serpenteia pelos poemas. O medo que "fermenta o ódio/ que destilamos há séculos" junta-se ao outro medo: o que nos sitia, tapa-nos o rosto, impede a tangibilidade dos afetos. Irá o medo ter tudo?
Uma outra palavra, porém, oposta, inimiga, atravessa de igual modo a obra: liberdade. "O homem não existe sem liberdade'; diz o poema inaugural de Sob a Levedura do Medo. Quem é mais forte, quem irá vencer a guerra civilizacional do nosso rude tempo, veloz, tão veloz que é considerado desperdício, devaneio arcaico, pensarmos por nossa cabeça. Quem tem dúvidas, quem persevera voz própria, não pertence ao "rebanho'; na sociedade da "blasfémia da certeza'; abençoada por um "deus aético" que impõe o "pensamento dominante'!
Ricardo Guimarães, em Sob a Levedura do Medo - livro deveras incomum no panorama da poesia de hoje - denuncia e interroga. Não será esse, afinal, o verdadeiro papel da literatura?»
Francisco Duarte Mangas