Quem se esqueceu de te lembrar? Quem se lembrou de te esquecer?
Sol alto e intenso. Céu carregado de um azul puro, feliz de existir. Quem és - penso. Teu rosto terno, sereno, indefeso - convoca-me. Olhar penetrante e inarredável - denúncia do teu íntimo profundo. Lábios carnudos, róseos, milimetricamente contornados - apelo categórico até ao limite de mim.
Matrika era o nome, soube depois. Lenço envolto sobre ti. Gorro de tom vivo - vermelho de velasquez. Abracei-te num olhar, esforcei-me por. Prometi-te um futuro, imaginei-me a. Não sabia que dizer, lembro-me que. Busca absoluta da palavra oculta. Palavra final de mim. Procurava-a, ainda que. Nenhuma inteiramente o dissesse. E agora, todo eu imóvel, suspenso no absoluto do instante, ergo-me longamente na dissipação melancólica da recordação. Penso-te à hemisférica distância - aérea saudade. Silêncio breve. Urgência de ti.
De súbito a noite cai. Aqui as noites também caem. Evolar de uma triste lua.
Puxo de um cigarro. Fumo-o. Engancho o dedo. Solto-o. Atiro-o para longe, até ao infinito de mim. Mas não o piso. Não. Não piso o que foi, ainda que mais não seja.
A vida é isto mesmo - tamanho desespero-, eu sei. Não mais te verei, embora nunca realmente deixe de te ver.