A Litania da Cinza

Havíamos de pressentir o amor a meter-se em nós. Não o amor passivo, sentido por um filho ou um irmão. Não o amor pelo homem que nos fez ou pela mulher que nos pariu ou criou. Esse é benigno, nasce e habita em nós em contrato feito com o racional. Havíamos de antever tudo o que é inerente ao fogo de uma paixão. Para além do inexplicável arrepio, da febre alta e repentina, da fome descontrolada, do mundo que se encolhe perfeito à nossa volta... havíamos de intuir também o sofrimento a chegar. Mas não. O amor irrompe e atordoa-nos a percepção, venda-nos os olhos, ata-nos o discernimento, acende o fogo nas artérias e acampa no coração. Deixa solto o sentir e vê-o subir ao cume mais alto de nós, e depois espreme-nos de tudo o que temos para esboçar um sorriso. O amor escancara-nos a boca, fraseia-nos o coração, arranha-nos a garganta em verbos de se dizer alto e espera, e faz eco de rouxinóis poisados na vulnerabilidade dos corpos. Mas quando não é recíproco, transforma-se num vómito que dói. Num castigo que se cumpre sozinho. Num aperto sem abraço. Num silêncio que alastra no singular.

10,00 €

2021 | URGE A POESIA   
           FEIRA EDITORIAL DE POESIA

Primeiras edições, edições especiais, destaques literários, entre outras iniciativas. Descubra aqui o livro que procura! 

ONDE NOS ENCONTRAR

Praça Dr. António Breda, 4
3750-106 Águeda
(+351) 234 623 720 | (+351) 913 333 000
conservador.museu@fundacaodionisiopinheiro.pt

Desenvolvido por Webnode
Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora