47 Poemas Femininos | Álvaro Alves de Faria

Álvaro Alves de Faria, ou o seu álter ego feminino, diz "A poesia é mulher" e eu acrescento, como também o é a lua, aquela luz silenciosa que nos observa todas as noites e é o começo de tantas histórias mágicas que fazem parte da nossa cultura e sonhos. Mas diante desses dois elementos podemos colocar o poema e o sol, ambos masculinos, como o é o homem que descobriu sua alma feminina nesses 47 poemas que agora tenho em minhas mãos.
E comecei a ler confundindo o feminino com o feminismo, procurando aquela poesia tão necessária neste momento em meu país em que as mulheres são protagonistas e buscadoras de justiça social e igualdade que sempre lhes foram negadas. Mulheres lutando para obter direitos que nos homens são pressupostos simplesmente por serem homens. Mulheres que, por vezes, carecem desse "sentimento materno" muito gasto interessadamente e reivindicam seu direito de decidir livremente entre ser cuidadoras de seus filhos ou de seus parentes (papel imposto durante séculos e que nossas mães aceitaram resignadamente) ou protagonistas de suas próprias vidas. Mulheres que ainda não têm facilidade para viver em um mundo de homens, macroeconomia e produtividade. E eu leio avidamente descobrindo meu erro inicial causado, sem dúvida, pela cultura e pelo mundo em que vivo.
Descubro, então, uma mulher que revisa sua vida e está consciente de que ter lutado por sua liberdade (em um sentido amplo), sua solidão e independência: "Estou sozinha em mim / e isto me basta" faz dela a única protagonista de sua vida. Uma mulher que prefere a verdade e a dor à lírica: "Nada me diz poesia lírica, mas pedra bruta / que quebra vidraça / num golpe de raiva". Um ser que escreve para lembrar e se encontra como alguém se encontra diante do espelho, com uma única verdade "a dor que nunca para de doer". E, a pesar de tudo, um ser que se reafirma no direito de decidir por si mesma fora de papéis e preconceitos: "Quem nunca é feito / não sai com a roupa do domingo / para enganar a aparência / quem esqueceu de viver ". E continuo nessa dualidade que Álvaro Alves de Faria propõe: "O poeta que amo mora por dentro, / onde mantenho um mundo inverso / ao meu que não vivo [...] ese poeta que é o outro lado de mim / onde termino ele começa, [...]"; que se descobre em sua própria sombra e abraça seu próprio corpo nu para se sentir rainha de si mesmo/a. E descubro que existem sentimentos universais que nos unem frente a tudo o que separa o masculino e o feminino.
E a dor, o corte, a ferida, a frustração, o silêncio ... são universais em ambos. E como não falar sobre a necessidade de escrever poemas que nos salvem de nós mesmos, do mundo que nos apunhala. Uma poesia necessária para respirar e leio "Não é a alma que serve à poesia, / mas a poesia que serve à alma / no verso delicado da escrita, / a palavra que se elabora, / no poema que se escreve /quando o poeta vai embora". Essa poesia ou aquele poema que nos liga à vida que escorrega por entre os dedos, neste tempo imparável que, às vezes, significa dor e outras prazer: "tudo que amei por meu desejo, / o que sempre tive e já não tenho". Escrever poesia é questionar, recusar, afirmar, estar consciente do tempo e das feridas, deixar de habitar o esquecimento: "Além do mais, / sou testemunha de mim mesma / e vi coisas que queria esquecer. / Mas não esqueço".
Por isso, não hesito em imaginar o Álvaro em feminino que reescreve sua vida sem nenhuma fraude. Porque, afinal de contas, a vida que cada um teve que viver é o que nos faz como somos, independentemente de nosso sexo ou condição. E a poesia (feminina) ainda é composta de poemas (masculinos) e ambos são necessários para fazer sentido. Por que pensar em feminino ou masculino? Por que não encontrar o nosso outro eu complementar como Álvaro Alves de Faria fez e ser um só e verdadeiro nas duas faces do espelho? 

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